A FALSA CONFIABILIDADE DO TEXTO DO NOVO
TESTAMENTO
O objetivo desse estudo é mostrar que as alegações apologéticas sobre “99% de confiabilidade do texto do NT” são enganosas e que temos razões substanciais para duvidar da integridade do texto do Novo Testamento.
A supremacia numérica dos manuscritos do Novo Testamento e sua inutilidade prática
Atualmente, possuímos cerca de 5745 manuscritos do Novo Testamento. Esses manuscritos são classificados em quatro grupos: 1) Alexandrino (“Neutro” ou “Egípcio”); 2) Ocidental; 3) Cesariano e; 5) Bizantino (“Maior” ou “sírio”), de acordo com sua forma de texto.
Desses quatro grupos, o texto denominado “Bizantino” é o mais abrangente: Cerca de 80% para 90% de todos os manuscritos do Novo Testamento grego disponíveis representam o texto bizantino, que constitui o texto “majoritário” (HOLMES, 1983, p. 15).
No entanto, o texto do tipo Bizantino, quase unanimemente é considerado como o pior texto-tipo em relação aos demais textos do Novo Testamento. Somado a isso, o texto do tipo bizantino corresponde aos manuscritos mais tardios que conhecidos, datando de meados da Idade Medieval, a partir do século 9 d.C.
(Cf: M. W. Holmes, "The 'Majority Text Debate': New Form Of An Old Issue", Themelios, 1983, Volume 8, No. 2, p. 15.; A good critique of "Majority" text theory was made by D. B. Wallace, "The Majority Text Theory: History, Methods, And Critique", in B. D. Ehrman and M. W. Holmes, The Text Of The New Testament In Contemporary Research: Essays On The Status Quaestionis (A Volume In The Honor Of Bruce M. Metzger), 1995).
Os manuscritos que realmente possuem qualidade correspondem a não mais que 10% de todos os manuscritos existentes. Portanto, os críticos textuais preparam suas edições críticas do Novo Testamento grego com base em manuscritos selecionados, não menos que 5% e não mais que 11%.
A Nestlé-Aland Novum's Testamentum Graece (26a Edição), por exemplo, utiliza 522 manuscritos no total, totalizando apenas 10% de todos os textos; a edição Metzger's é a menor, usa apenas 266 manuscritos, 5% do total, e assim por diante.
Desse modo, se para que se possa estabelecer uma análise acerca da corruptibilidade e restauração do Novo Testamento, deve-se levar em conta apenas um pouco mais de 10% de todos os manuscritos existentes, segue-se que os demais 90% dos manuscritos existentes não possuem relevante importância para a reconstrução do texto do Novo Testamento, sendo que em sua maioria trazem os mesmos erros e variações dos textos mais antigos, e são tardios demais para que possam corresponder ao texto primitivo.
Por isso, Ehrman afirma:
"Em um momento ou outro, você pode ter ouvido alguém alegando que se pode confiar no Novo Testamento, porque é o mais bem atestado livro do Mundo Antigo, pois se há mais manuscritos do Novo Testamento do que de qualquer outro livro, não devemos ter qualquer dúvida a respeito da veracidade da sua mensagem. Dado o que vimos [...], deve ficar claro o porquê dessa linha de raciocínio ser defeituoso. É verdade, naturalmente, que o Novo Testamento é sobejamente comprovado nos manuscritos produzidos através dos séculos, mas a maioria desses manuscritos foram escritos muitos séculos depois dos originais, e nenhuma deles é perfeitamente precisos. Todos contêm erros - completamente muitos milhares de erros. Não é uma tarefa fácil reconstruir a qualquer palavra original do Novo Testamento". (EHRMAN, Bart D., The New Testament: An Historical Introduction To The Early Christian Writings, 2000, p. 449).
Portanto, sendo que a maior parte dos 5745 manuscritos do Novo Testamento são manuscritos ruins e provenientes do 9° século, ficamos com um número bastante reduzido de manuscritos que podem (ou não) trazer luz sobre como era o texto mais primitivo do Novo Testamento.
***
Para que se possa estabelecer a fidedignade textual do Novo Testamento, devemos recorrer para os textos mais antigos, pois os mesmos possuem grande probabilidade de não terem sido alterados e de não conterem variantes.
No entanto, até cerca do século II d.C. – a tarde mais próxima possível dos manuscritos originais – não possuímos mais que 6 fragmentos de manuscritos. Até o século III d.C. possuímos apenas 48 fragmentos de manuscritos do Novo Testamento.
* Apenas 1.48% de todos os mais de 5745 manuscritos do Novo Testamento podem ser datados do século 4° para trás.
* Como já afirmamos, 91% de todos os manuscritos datam do século 9° em diante.
* Desse modo, 94% dos manuscritos do Novo Testamento, datam do período Medieval tardio, aproximadamente 800 anos depois do nascimento de Jesus.
* Somente não mais que 6% de todos os manuscritos do Novo Testamento datam até o final da Idade Antiga e possuem uma maior probabilidade de serem confiáveis.
Esse fato é bastante conhecido entre os críticos textuais. De acordo com o Dr. Klaus Junack, um investigador do Institut für neutestamentliche Textforschung, Universität Münster, na Alemanha, considerado um dos principais especialistas associados à UBS e do Projeto do Novo Testamento Grego, afirmou: “Hoje mais de 5000 manuscritos são conhecidos: a esmagadora maioria destes datam do período medieval e medieval tardio” (Cf. K. Junack, "The Reliability Of The New Testament Text From The Perspective Of Textual Criticism", The Bible Translator, 1978, Volume XXIX, Issue I, p. 131.).
Desse modo, majoritariedade dos textos do Novo Testamento como argumento para sua confiabilidade é um engodo, haja vista que os textos majoritários são tardios, corruptos, cópias dos mesmos e, pelo fato de não possuírem confiabilidade e antiguidade, não são utilizados pela Crítica Textual no objetivo de se estabelecer o texto do Novo Testamento mais próximo do original.
A natureza fragmentária dos mais antigos manuscritos do Novo Testamento
Uma rápida olhada sobre os dados revela que o Evangelho de João tem a mais antiga evidência manuscrita (P52, c. 125-150 d.C.), enquanto que as cópias mais antigas dos livros de 1ª e 2ª Timóteo e o 3ª João foram preservadas em manuscritos tardios (cercar do 4 ª século).
A maioria dos manuscritos mais antigos dos documentos do Novo Testamento é muito fragmentada, sendo que às vezes não contém nada mais que um par de versículos ou até menos. A maioria dos manuscritos data entre 200-300 anos depois de Jesus e, portanto apresentam um enorme abismo entre o registro escrito e a época em que os eventos relatados ocorreram.
As evidências manuscritas mais antigas que possuímos são listadas em ordem cronológica a seguir:
Século = 2° // Manuscritos do Novo Testamento = 2 // Percentual Cumulativo = 0.03 %
Século = c. 200 // Manuscritos do Novo Testamento = 6 (somado aos anteriores) // Percentual Cumulativo = 0.11 %
Século = 2° / 3° // Manuscritos do Novo Testamento = 8 // Percentual Cumulativo = 0.15 %
Século = 3° // Manuscritos do Novo Testamento = 38 // Percentual Cumulativo = 0.73 %
Século = 3° / 4° // Manuscritos do Novo Testamento = 48 // Percentual Cumulativo = 0.92 %
Século = 4° // Manuscritos do Novo Testamento = 77 // Percentual Cumulativo = 1.48 %
Ou seja, até no ano 200 d.C. temos apenas 8 (oito) manuscritos.
Qual o estado desses manuscritos?
Mateus = Manuscritos antigos = P64, P67, P104 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
Marcos = Manuscritos antigos = P45 //DATA = 3° séc. //Condição = Muitos fragmentos
Lucas = Manuscritos antigos = P4 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmento
João = Manuscritos antigos = P52 //DATA = c. 125-150 //Condição = Fragmento
Atos = Manuscritos antigos = P38 DATA = 3° séc. //Condição = Fragmento
Romanos = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
1 Coríntios = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
2 Coríntios = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
Gálatas = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
Efésios = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
Filipenses = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
Colosenses = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
1 Tessalonicenses = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
2 Tessalonicenses = Manuscritos antigos =P92 //DATA =3° / 4° séc.//Condição = Fragmento
1 Timóteo = Manuscritos antigos = (Sinaíticus) //DATA =4° séc. //Condição = Completo
2 Timóteo = Manuscritos antigos = (Sinaíticus) //DATA =4° séc. //Condição = Completo
Tito = Manuscritos antigos =P32 //DATA =c. 200 //Condição = Fragmento
Filemom = Manuscritos antigos =P87 //DATA = 3° séc. //Condição = Fragmento
Hebreus = Manuscritos antigos =P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmento
Tiago = Manuscritos antigos = P23, P20 //DATA = 3° séc. //Condição = Fragmento
1 Pedro = Manuscritos antigos = P72 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos
2 Pedro = Manuscritos antigos = P72 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos
1 João = Manuscritos antigos = P9 //DATA = 3° séc. //Condição = Fragmentos
2 João = Manuscritos antigos = 0232 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos
3 João = Manuscritos antigos = (Sinaíticus) //DATA =4° séc. //Condição = Completo
Judas = Manuscritos antigos = P72 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos
Apocalipse = Manuscritos antigos = P98 //DATA =2° séc. //Condição = Fragmento
Ou seja, todos os manuscritos do Novo Testamento mais antigos, copiados até o início do 4° século, foram preservados até nós na forma de fragmentos.
(cf. ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. The Text of The New Testament: An Introduction to the Critical Editions and to the Theory and Practice of Modern Textual Criticism. 2nd Revised Edition. Eerdmans Pub. Company: Grand Rapid, Michigan, 1995)
A “Confiabilidade” dos Manuscritos do Novo Testamento
A afirmação de que o texto do Novo Testamento possui 99,5% de precisão é falsa. Supostamente, o primeiro estudioso a afirmar isso foi o Dr. Bruce Metzger. No entanto, essa alegação não pode ser demonstrada. Norman Geisler, um apologista cristão, foi quem criou essa “lenda”. De acordo com Geisler, “Metzger [...] calcula o Novo Testamento com cerca de 99,5 por cento de exatidão” (cf. N. L. Geisler & A. Saleeb, Answering Islam: The Crescent In The Light Of The Cross. Baker Books: Grand Rapids (MI), 1993, p. 234-235. cf. também N. L. Geisler & W. E. Nix, A General Introduction To The Bible, Moody Press: Chicago, 1986, p. 408 and pp. 474-475.) A citação de Geisler remete ao capítulo “Recent Trends In The Textual Criticism Of The Iliad And The Mahabharata”, do livro The History Of New Testament Textual Criticism. No entanto, além de Geisler não mencionar qualquer página específica, uma leitura no livro especificado de Metzger, e em especial desse capítulo determinado por Geisler, mostra que em nenhum lugar Metzger afirma que a estimativa de precisão do Novo Testamento é de 99,5%.
Longe dos “99,5% de confiabilidade textual”, a Crítica Textual conseguiu alcançar a valiosa soma de 85% de segurança acerca da precisão do texto do Novo Testamento. No entanto, esse percentual não significa exatamente que texto do Novo Testamento seja 85% preciso. Em geral, esses 85% de segurança equivalem à fidedignidade de nossos textos críticos atuais em relação aos textos existentes no século IV d.C. Isso significa que a precisão do texto do Novo Testamento pode ser garantida na faixa de 85% somente em até aproximadamente cerca de 300 anos após esses textos terem sido escritos.
Por isso, afirmar que 85% do texto do Novo Testamento é preciso, equivale a afirmar que 85% do texto do Novo Testamento corresponde com precisão aos textos existentes no século IV. A história desses textos e sua confiabilidade não podem ser construídas com precisão antes dessa data.
Em contrapartida, foi exatamente entre o final do século I d.C. e entre os séculos II e III d.C., que as maiores alterações textuais foram realizadas, inclusive testemunhadas na literatura da época.
Desse modo, para que se possa estabelecer o grau de corruptibilidade e confiabilidade do texto do Novo Testamento, a Crítica Textual recorre aos mais antigos manuscritos possíveis, ou seja, a somente cerca de 10% de todos os mais de 5745 manuscritos do Novo Testamento existentes.
A corrupção dos manuscritos do Novo Testamento
Kurt Aland e Barbara Aland, em seu livro The Text Of The New Testament apresentam uma tabela que compara o número total de variantes em versículos livres da edição crítica Nestlé-Aland com outras edições, como a de Tischendorf, Westcott-Hort, von Soden, Vogels , Merk, e Bover. Para agravar a situação, essa comparação não leva em conta as diferenças nas variantes ortográficas:
Mateus = N°. de versículos = 1071 //N°. de variantes = 642 //Porcentagem = 59.9%
Marcos = N°. de versículos = 678 //N°. de variantes = 306 //Porcentagem = 45.1%
Lucas = N°. de versículos = 1151 //N°. de variantes = 658 //Porcentagem = 57.2%
João = N°. de versículos = 869 //N°. de variantes = 450 //Porcentagem = 51.8 %
Atos = N°. de versículos = 1006 //N°. de variantes = 677 //Porcentagem = 67.3 %
Romanos = N°. de versículos = 433 //N°. de variantes = 327 //Porcentagem = 75.5%
1 Coríntios = N°. de versículos = 437 //N°. de variantes = 331 //Porcentagem = 75.7%
2 Coríntios = N°. de versículos = 256 //N°. de variantes = 200 //Porcentagem = 78.1%
Gálatas = N°. de versículos = 149 //N°. de variantes = 114 //Porcentagem = 76.5%
Efésios = N°. de versículos = 155 //N°. de variantes = 118 //Porcentagem = 76.1%
Filipenses = N°. de versículos = 104 //N°. de variantes = 73 //Porcentagem = 70.2%
Colossos = N°. de versículos = 95 //N°. de variantes = 69 //Porcentagem = 72.6 %
1 Tessalonicenses = N°. de versículos = 89 //N°. de variantes = 61 //Porcentagem = 68.5%
2 Tessalonicenses = N°. de versículos = 47 //N°. de variantes = 34 //Porcentagem = 72.3%
1 Timóteo = N°. de versículos = 113 //N°. de variantes = 92 //Porcentagem = 81.4%
2 Timóteo = N°. de versículos = 83 //N°. de variantes = 66 //Porcentagem = 79.5%
Tito = N°. de versículos = 46 //N°. de variantes = 33 //Porcentagem = 71.7%
Filemom = N°. de versículos = 25 //N°. de variantes = 19 //Porcentagem = 76.0%
Hebreus = N°. de versículos = 303 //N°. de variantes = 234 //Porcentagem = 77.2%
Tiago = N°. de versículos = 108 //N°. de variantes = 66 //Porcentagem = 61.1%
1 Pedro = N°. de versículos = 105 //N°. de variantes = 70 //Porcentagem = 66.6%
2 Pedro = N°. de versículos = 61 //N°. de variantes = 32 //Porcentagem = 52.5%
1 João = N°. de versículos = 105 //N°. de variantes = 76 //Porcentagem = 72.4%
2 João = N°. de versículos = 13 //N°. de variantes = 8 //Porcentagem = 61.5%
3 João = N°. de versículos = 15 //N°. de variantes = 11 //Porcentagem = 73.3%
Judas = N°. de versículos = 25 //N°. de variantes = 18 //Porcentagem = 72.0%
Apocalipse = N°. de versículos = 405 //N°. de variantes = 214 //Porcentagem = 52.8 %
Total = N°. de versículos = 7947 //N°. de variantes = 4999 //Porcentagem = 62.9%
Ao visualizar tais números, logo se percebe que quase dois terços do texto do Novo Testamento, em sete edições revisadas por Aland, não estão de acordo entre si, sem contar com as diferenças ortográficas e outros detalhes não inclusos nessa análise.
O quadro mostra perfeitamente que 62,9% dos versículos do Novo Testamento são variantes e, portanto não representam a alegada “pureza” afirmada pela apologia cristã. A proporção varia de 45,1% no Evangelho de Marcos para 81,4% em 2Timóteo.
O número total de variantes livres nos Evangelhos bíblicos é representado da seguinte maneira:
Mateus = N°. de versículos = 1071 //N°. de variantes = 642 //Porcentagem = 59.9%
Marcos = N°. de versículos = 678 //N°. de variantes = 306 //Porcentagem = 45.1%
Lucas = N°. de versículos = 1151 //N°. de variantes = 658 //Porcentagem = 57.2%
João = N°. de versículos = 869 //N°. de variantes = 450 //Porcentagem = 51.8%
Total = N°. de versículos = 3769 //N°. de variantes = 2056 //Porcentagem = 54.5%
Esse percentual de 54,5% de variação nos quatro evangelhos corresponde a um pouco mais da metade de seu conteúdo. Isso significa que a metade do texto dos Evangelhos bíblicos é longe de ser puro.
No que se refere ao número total de variantes livres nos escritos paulinos (Romanos à Hebreus), temos os seguintes dados:
Total = N°. de versículos = 2335 N°. de variantes = 1771 Porcentagem = 76.5%
É por esse motivo que as comissões de crítica textual têm procurado indicar o grau relativo de segurança por meio das letras A, B, C, D e, dentro de “chaves” {} no início de cada conjunto de variantes textuais. As suas decisões são hipotéticas, baseadas tanto em considerações internas, como em evidência externa.
“{A}” significa que o texto é praticamente certo, enquanto que “{B}” indica que existe certo grau de dúvida. A letra “{C}” significa que existe um considerável grau de dúvida, enquanto que “{D}” mostra que existe um grau muito elevado de dúvida sobre a leitura.
Ou seja:
“{A}” = texto seguro"{B}” = certo grau de dúvida"{C}” =considerável grau de dúvida"{D”} = grau muito elevado de dúvida
Estas classificações são tabuladas nas notas de rodapé de cada edição crítica do Novo Testamento grego, incluindo a The Greek New Testament Aland.
A seguinte classificação foi realizada pela ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. The Text of The New Testamen, 1995. Ela retrata o grau de confiabilidade textual do texto do Novo Testamento de acordo com a classificação “{A}” (= texto seguro), “{B}” (= certo grau de dúvida) “{C}” (=considerável grau de dúvida) e “{D”} (= grau muito elevado de dúvida):
Classificação {A} = 8.7 %
Classificação {B} = 32.9 %
Classificação {C} = 48.4 %
Classificação {D} = 9.9 %
Ou seja:
o texto do Novo Testamento possui somente 8,7% de confiança, enquanto 91,2% do texto oscilam entre pouco duvidoso e muito duvidoso.
Isso significa que só podemos ter confiança absoluta a respeito do texto do Novo Testamento em apenas 8,7% de seu conteúdo.
Diante desses dados alarmantes, precisamos definir se esse alto número de variações é realmente significante para a leitura bíblica. Metzger e Ehrman, ao discutir a história de várias edições do texto do Novo Testamento grego no período crítico moderno, respondem a essa questão:
"Em 1966, após uma década de trabalho por uma comissão internacional, cinco sociedades bíblica publicaram uma edição do Greek New Testament designados para o uso de tradutores da Bíblia e estudantes. O aparato textual, que proporcionou uma citação relativamente completa das evidências manuscrito provas, incluiu cerca de 1.440 conjuntos de leituras variantes, escolhidos especialmente por causa de sua significância exegética [...] m 1981, por ocasião de uma reunião dos cinco membros da comissão editorial [...], as decisões foram feitas no sentido de introduzir no aparato 284 conjuntos adicionais de leituras variantes de passagens de importância exegética" (Cf. B. M. Metzger & B. D. Ehrman. The Text Of The New Testament: Its Transmission, Corruption, And Restoration, 2005, Fourth Edition, op. cit., pp. 192-194).
Desse modo, 1724 conjuntos de leituras variantes foram selecionados, todos eles, ao contrário da proclamação da apologista, de grande importância, dada sua “importância exegética”, para a leitura do Novo Testamento.
D. João Mehlmann O.S.B., doutor em Teologia e em Ciências Bíblicas, durante muito tempo professor da PUC-SP, afirmou que:
“Sendo o Novo Testamento o livro mais copiado na Antiguidade, é lógico que na transmissão manuscrita seja um dos livros que MAIS VARIANTES apresentam. Se todas as palavras do Novo Testamento não chegam a 150.000, as variantes são cerca de 200.000.
As causas dessas variantes, que podem dividir-se em não-intencionais e intencionais [...] Talvez umas 200 variantes influem no sentido do texto [...] e talvez umas 15 se referem a verdades dogmáticas”. (cf. História da Palestina nos Tempos do Novo Testamento, 1961, coleção da Revista de História. Volume I (História Política da Palestina nos Tempos do Novo Testamento).
***
Conclusões
- Só temos um texto legitimamente seguro em relação à tradição manuscrita do século IV d.C. Como os séculos I, II, III foram os séculos em que mais se adulteraram o texto do NT, temos certeza total de que o texto do Novo Testamento não merece confiança.
- Não temos mais que 8% de certeza e segurança a respeito da confiabilidade do texto do Novo Testamento.
- 91,2% do texto do Novo Testamento oscilam entre pouco duvidoso e muito duvidoso.
- Dos 7947 versículos que o Novo Testamento possui, 4999 foram alterados, constituindo variantes. A porcentagem total de alterações e variações do texto do Novo Testamento é de 62.9% (e isso somente de acordo com o texto do NT do século IV d.C.. Na medida em que retrocedemos no tempo até o século I, essa porcentagem aumenta).
- Dos 5745 manuscritos existentes (até o ano de 2005) do Novo Testamento, apenas 2,8% pertencem a Idade Antiga Tárdia. 97,2% são manuscritos medievais, 93,6% foram escritos depois do século 9° d.C.
- Apenas 0,03% de todos os manuscritos existentes do Novo Testamento pertencem ao século II d.C., e se constituem meros 2 papiros fragmentados.
- Não há nenhum texto completo do Novo Testamento anterior ao século III d.C., sendo que a grande maioria são meros fragmentos contendo um ou dois versículos breves.
- Apenas 8% de todos os 5745 manuscritos do Novo Testamento descobertos até o ano de 2005 constituem textos completos do Novo Testamento.
- 92% de todos os 5745 manuscritos do Novo Testamento não passam de fragmentos.
- A Crítica Textual só vai aonde os manuscritos vão. Como só começamos a ter manuscritos completos a partir do século IV d.C., a Crítica Textual só pôde identificar as alterações textuais produzidas dessa época em diante. As mais antigas alterações textuais (as que versam sobre as verdades dogmáticas do cristianismo, histórias de Jesus, etc.) precisam do apoio da Crítica da Tradição, Crítica da Redação e Crítica das Fontes para serem identificadas e elucidadas.
***
Fontes de consulta:
http:// www. islamic-awareness.org/Bible/Text/Bibaccuracy.html;
ALAND, Kurt (ed.) [et al]. The New Testament Greek. Third Edition. Stuttgart-Germany: United Bible Societies, 1988;
EHRMAN, Bart. O que Jesus disse? O que Jesus não disse? Quem mudou a Bíblia e por quê? Rio de Janeiro: Prestígio, 2006.
O objetivo desse estudo é mostrar que as alegações apologéticas sobre “99% de confiabilidade do texto do NT” são enganosas e que temos razões substanciais para duvidar da integridade do texto do Novo Testamento.
A supremacia numérica dos manuscritos do Novo Testamento e sua inutilidade prática
Atualmente, possuímos cerca de 5745 manuscritos do Novo Testamento. Esses manuscritos são classificados em quatro grupos: 1) Alexandrino (“Neutro” ou “Egípcio”); 2) Ocidental; 3) Cesariano e; 5) Bizantino (“Maior” ou “sírio”), de acordo com sua forma de texto.
Desses quatro grupos, o texto denominado “Bizantino” é o mais abrangente: Cerca de 80% para 90% de todos os manuscritos do Novo Testamento grego disponíveis representam o texto bizantino, que constitui o texto “majoritário” (HOLMES, 1983, p. 15).
No entanto, o texto do tipo Bizantino, quase unanimemente é considerado como o pior texto-tipo em relação aos demais textos do Novo Testamento. Somado a isso, o texto do tipo bizantino corresponde aos manuscritos mais tardios que conhecidos, datando de meados da Idade Medieval, a partir do século 9 d.C.
(Cf: M. W. Holmes, "The 'Majority Text Debate': New Form Of An Old Issue", Themelios, 1983, Volume 8, No. 2, p. 15.; A good critique of "Majority" text theory was made by D. B. Wallace, "The Majority Text Theory: History, Methods, And Critique", in B. D. Ehrman and M. W. Holmes, The Text Of The New Testament In Contemporary Research: Essays On The Status Quaestionis (A Volume In The Honor Of Bruce M. Metzger), 1995).
Os manuscritos que realmente possuem qualidade correspondem a não mais que 10% de todos os manuscritos existentes. Portanto, os críticos textuais preparam suas edições críticas do Novo Testamento grego com base em manuscritos selecionados, não menos que 5% e não mais que 11%.
A Nestlé-Aland Novum's Testamentum Graece (26a Edição), por exemplo, utiliza 522 manuscritos no total, totalizando apenas 10% de todos os textos; a edição Metzger's é a menor, usa apenas 266 manuscritos, 5% do total, e assim por diante.
Desse modo, se para que se possa estabelecer uma análise acerca da corruptibilidade e restauração do Novo Testamento, deve-se levar em conta apenas um pouco mais de 10% de todos os manuscritos existentes, segue-se que os demais 90% dos manuscritos existentes não possuem relevante importância para a reconstrução do texto do Novo Testamento, sendo que em sua maioria trazem os mesmos erros e variações dos textos mais antigos, e são tardios demais para que possam corresponder ao texto primitivo.
Por isso, Ehrman afirma:
"Em um momento ou outro, você pode ter ouvido alguém alegando que se pode confiar no Novo Testamento, porque é o mais bem atestado livro do Mundo Antigo, pois se há mais manuscritos do Novo Testamento do que de qualquer outro livro, não devemos ter qualquer dúvida a respeito da veracidade da sua mensagem. Dado o que vimos [...], deve ficar claro o porquê dessa linha de raciocínio ser defeituoso. É verdade, naturalmente, que o Novo Testamento é sobejamente comprovado nos manuscritos produzidos através dos séculos, mas a maioria desses manuscritos foram escritos muitos séculos depois dos originais, e nenhuma deles é perfeitamente precisos. Todos contêm erros - completamente muitos milhares de erros. Não é uma tarefa fácil reconstruir a qualquer palavra original do Novo Testamento". (EHRMAN, Bart D., The New Testament: An Historical Introduction To The Early Christian Writings, 2000, p. 449).
Portanto, sendo que a maior parte dos 5745 manuscritos do Novo Testamento são manuscritos ruins e provenientes do 9° século, ficamos com um número bastante reduzido de manuscritos que podem (ou não) trazer luz sobre como era o texto mais primitivo do Novo Testamento.
***
Para que se possa estabelecer a fidedignade textual do Novo Testamento, devemos recorrer para os textos mais antigos, pois os mesmos possuem grande probabilidade de não terem sido alterados e de não conterem variantes.
No entanto, até cerca do século II d.C. – a tarde mais próxima possível dos manuscritos originais – não possuímos mais que 6 fragmentos de manuscritos. Até o século III d.C. possuímos apenas 48 fragmentos de manuscritos do Novo Testamento.
* Apenas 1.48% de todos os mais de 5745 manuscritos do Novo Testamento podem ser datados do século 4° para trás.
* Como já afirmamos, 91% de todos os manuscritos datam do século 9° em diante.
* Desse modo, 94% dos manuscritos do Novo Testamento, datam do período Medieval tardio, aproximadamente 800 anos depois do nascimento de Jesus.
* Somente não mais que 6% de todos os manuscritos do Novo Testamento datam até o final da Idade Antiga e possuem uma maior probabilidade de serem confiáveis.
Esse fato é bastante conhecido entre os críticos textuais. De acordo com o Dr. Klaus Junack, um investigador do Institut für neutestamentliche Textforschung, Universität Münster, na Alemanha, considerado um dos principais especialistas associados à UBS e do Projeto do Novo Testamento Grego, afirmou: “Hoje mais de 5000 manuscritos são conhecidos: a esmagadora maioria destes datam do período medieval e medieval tardio” (Cf. K. Junack, "The Reliability Of The New Testament Text From The Perspective Of Textual Criticism", The Bible Translator, 1978, Volume XXIX, Issue I, p. 131.).
Desse modo, majoritariedade dos textos do Novo Testamento como argumento para sua confiabilidade é um engodo, haja vista que os textos majoritários são tardios, corruptos, cópias dos mesmos e, pelo fato de não possuírem confiabilidade e antiguidade, não são utilizados pela Crítica Textual no objetivo de se estabelecer o texto do Novo Testamento mais próximo do original.
A natureza fragmentária dos mais antigos manuscritos do Novo Testamento
Uma rápida olhada sobre os dados revela que o Evangelho de João tem a mais antiga evidência manuscrita (P52, c. 125-150 d.C.), enquanto que as cópias mais antigas dos livros de 1ª e 2ª Timóteo e o 3ª João foram preservadas em manuscritos tardios (cercar do 4 ª século).
A maioria dos manuscritos mais antigos dos documentos do Novo Testamento é muito fragmentada, sendo que às vezes não contém nada mais que um par de versículos ou até menos. A maioria dos manuscritos data entre 200-300 anos depois de Jesus e, portanto apresentam um enorme abismo entre o registro escrito e a época em que os eventos relatados ocorreram.
As evidências manuscritas mais antigas que possuímos são listadas em ordem cronológica a seguir:
Século = 2° // Manuscritos do Novo Testamento = 2 // Percentual Cumulativo = 0.03 %
Século = c. 200 // Manuscritos do Novo Testamento = 6 (somado aos anteriores) // Percentual Cumulativo = 0.11 %
Século = 2° / 3° // Manuscritos do Novo Testamento = 8 // Percentual Cumulativo = 0.15 %
Século = 3° // Manuscritos do Novo Testamento = 38 // Percentual Cumulativo = 0.73 %
Século = 3° / 4° // Manuscritos do Novo Testamento = 48 // Percentual Cumulativo = 0.92 %
Século = 4° // Manuscritos do Novo Testamento = 77 // Percentual Cumulativo = 1.48 %
Ou seja, até no ano 200 d.C. temos apenas 8 (oito) manuscritos.
Qual o estado desses manuscritos?
Mateus = Manuscritos antigos = P64, P67, P104 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
Marcos = Manuscritos antigos = P45 //DATA = 3° séc. //Condição = Muitos fragmentos
Lucas = Manuscritos antigos = P4 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmento
João = Manuscritos antigos = P52 //DATA = c. 125-150 //Condição = Fragmento
Atos = Manuscritos antigos = P38 DATA = 3° séc. //Condição = Fragmento
Romanos = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
1 Coríntios = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
2 Coríntios = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
Gálatas = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
Efésios = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
Filipenses = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
Colosenses = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
1 Tessalonicenses = Manuscritos antigos = P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmentos
2 Tessalonicenses = Manuscritos antigos =P92 //DATA =3° / 4° séc.//Condição = Fragmento
1 Timóteo = Manuscritos antigos = (Sinaíticus) //DATA =4° séc. //Condição = Completo
2 Timóteo = Manuscritos antigos = (Sinaíticus) //DATA =4° séc. //Condição = Completo
Tito = Manuscritos antigos =P32 //DATA =c. 200 //Condição = Fragmento
Filemom = Manuscritos antigos =P87 //DATA = 3° séc. //Condição = Fragmento
Hebreus = Manuscritos antigos =P46 //DATA = c. 200 //Condição = Fragmento
Tiago = Manuscritos antigos = P23, P20 //DATA = 3° séc. //Condição = Fragmento
1 Pedro = Manuscritos antigos = P72 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos
2 Pedro = Manuscritos antigos = P72 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos
1 João = Manuscritos antigos = P9 //DATA = 3° séc. //Condição = Fragmentos
2 João = Manuscritos antigos = 0232 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos
3 João = Manuscritos antigos = (Sinaíticus) //DATA =4° séc. //Condição = Completo
Judas = Manuscritos antigos = P72 //DATA = 3° / 4° séc. //Condição = Fragmentos
Apocalipse = Manuscritos antigos = P98 //DATA =2° séc. //Condição = Fragmento
Ou seja, todos os manuscritos do Novo Testamento mais antigos, copiados até o início do 4° século, foram preservados até nós na forma de fragmentos.
(cf. ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. The Text of The New Testament: An Introduction to the Critical Editions and to the Theory and Practice of Modern Textual Criticism. 2nd Revised Edition. Eerdmans Pub. Company: Grand Rapid, Michigan, 1995)
A “Confiabilidade” dos Manuscritos do Novo Testamento
A afirmação de que o texto do Novo Testamento possui 99,5% de precisão é falsa. Supostamente, o primeiro estudioso a afirmar isso foi o Dr. Bruce Metzger. No entanto, essa alegação não pode ser demonstrada. Norman Geisler, um apologista cristão, foi quem criou essa “lenda”. De acordo com Geisler, “Metzger [...] calcula o Novo Testamento com cerca de 99,5 por cento de exatidão” (cf. N. L. Geisler & A. Saleeb, Answering Islam: The Crescent In The Light Of The Cross. Baker Books: Grand Rapids (MI), 1993, p. 234-235. cf. também N. L. Geisler & W. E. Nix, A General Introduction To The Bible, Moody Press: Chicago, 1986, p. 408 and pp. 474-475.) A citação de Geisler remete ao capítulo “Recent Trends In The Textual Criticism Of The Iliad And The Mahabharata”, do livro The History Of New Testament Textual Criticism. No entanto, além de Geisler não mencionar qualquer página específica, uma leitura no livro especificado de Metzger, e em especial desse capítulo determinado por Geisler, mostra que em nenhum lugar Metzger afirma que a estimativa de precisão do Novo Testamento é de 99,5%.
Longe dos “99,5% de confiabilidade textual”, a Crítica Textual conseguiu alcançar a valiosa soma de 85% de segurança acerca da precisão do texto do Novo Testamento. No entanto, esse percentual não significa exatamente que texto do Novo Testamento seja 85% preciso. Em geral, esses 85% de segurança equivalem à fidedignidade de nossos textos críticos atuais em relação aos textos existentes no século IV d.C. Isso significa que a precisão do texto do Novo Testamento pode ser garantida na faixa de 85% somente em até aproximadamente cerca de 300 anos após esses textos terem sido escritos.
Por isso, afirmar que 85% do texto do Novo Testamento é preciso, equivale a afirmar que 85% do texto do Novo Testamento corresponde com precisão aos textos existentes no século IV. A história desses textos e sua confiabilidade não podem ser construídas com precisão antes dessa data.
Em contrapartida, foi exatamente entre o final do século I d.C. e entre os séculos II e III d.C., que as maiores alterações textuais foram realizadas, inclusive testemunhadas na literatura da época.
Desse modo, para que se possa estabelecer o grau de corruptibilidade e confiabilidade do texto do Novo Testamento, a Crítica Textual recorre aos mais antigos manuscritos possíveis, ou seja, a somente cerca de 10% de todos os mais de 5745 manuscritos do Novo Testamento existentes.
A corrupção dos manuscritos do Novo Testamento
Kurt Aland e Barbara Aland, em seu livro The Text Of The New Testament apresentam uma tabela que compara o número total de variantes em versículos livres da edição crítica Nestlé-Aland com outras edições, como a de Tischendorf, Westcott-Hort, von Soden, Vogels , Merk, e Bover. Para agravar a situação, essa comparação não leva em conta as diferenças nas variantes ortográficas:
Mateus = N°. de versículos = 1071 //N°. de variantes = 642 //Porcentagem = 59.9%
Marcos = N°. de versículos = 678 //N°. de variantes = 306 //Porcentagem = 45.1%
Lucas = N°. de versículos = 1151 //N°. de variantes = 658 //Porcentagem = 57.2%
João = N°. de versículos = 869 //N°. de variantes = 450 //Porcentagem = 51.8 %
Atos = N°. de versículos = 1006 //N°. de variantes = 677 //Porcentagem = 67.3 %
Romanos = N°. de versículos = 433 //N°. de variantes = 327 //Porcentagem = 75.5%
1 Coríntios = N°. de versículos = 437 //N°. de variantes = 331 //Porcentagem = 75.7%
2 Coríntios = N°. de versículos = 256 //N°. de variantes = 200 //Porcentagem = 78.1%
Gálatas = N°. de versículos = 149 //N°. de variantes = 114 //Porcentagem = 76.5%
Efésios = N°. de versículos = 155 //N°. de variantes = 118 //Porcentagem = 76.1%
Filipenses = N°. de versículos = 104 //N°. de variantes = 73 //Porcentagem = 70.2%
Colossos = N°. de versículos = 95 //N°. de variantes = 69 //Porcentagem = 72.6 %
1 Tessalonicenses = N°. de versículos = 89 //N°. de variantes = 61 //Porcentagem = 68.5%
2 Tessalonicenses = N°. de versículos = 47 //N°. de variantes = 34 //Porcentagem = 72.3%
1 Timóteo = N°. de versículos = 113 //N°. de variantes = 92 //Porcentagem = 81.4%
2 Timóteo = N°. de versículos = 83 //N°. de variantes = 66 //Porcentagem = 79.5%
Tito = N°. de versículos = 46 //N°. de variantes = 33 //Porcentagem = 71.7%
Filemom = N°. de versículos = 25 //N°. de variantes = 19 //Porcentagem = 76.0%
Hebreus = N°. de versículos = 303 //N°. de variantes = 234 //Porcentagem = 77.2%
Tiago = N°. de versículos = 108 //N°. de variantes = 66 //Porcentagem = 61.1%
1 Pedro = N°. de versículos = 105 //N°. de variantes = 70 //Porcentagem = 66.6%
2 Pedro = N°. de versículos = 61 //N°. de variantes = 32 //Porcentagem = 52.5%
1 João = N°. de versículos = 105 //N°. de variantes = 76 //Porcentagem = 72.4%
2 João = N°. de versículos = 13 //N°. de variantes = 8 //Porcentagem = 61.5%
3 João = N°. de versículos = 15 //N°. de variantes = 11 //Porcentagem = 73.3%
Judas = N°. de versículos = 25 //N°. de variantes = 18 //Porcentagem = 72.0%
Apocalipse = N°. de versículos = 405 //N°. de variantes = 214 //Porcentagem = 52.8 %
Total = N°. de versículos = 7947 //N°. de variantes = 4999 //Porcentagem = 62.9%
Ao visualizar tais números, logo se percebe que quase dois terços do texto do Novo Testamento, em sete edições revisadas por Aland, não estão de acordo entre si, sem contar com as diferenças ortográficas e outros detalhes não inclusos nessa análise.
O quadro mostra perfeitamente que 62,9% dos versículos do Novo Testamento são variantes e, portanto não representam a alegada “pureza” afirmada pela apologia cristã. A proporção varia de 45,1% no Evangelho de Marcos para 81,4% em 2Timóteo.
O número total de variantes livres nos Evangelhos bíblicos é representado da seguinte maneira:
Mateus = N°. de versículos = 1071 //N°. de variantes = 642 //Porcentagem = 59.9%
Marcos = N°. de versículos = 678 //N°. de variantes = 306 //Porcentagem = 45.1%
Lucas = N°. de versículos = 1151 //N°. de variantes = 658 //Porcentagem = 57.2%
João = N°. de versículos = 869 //N°. de variantes = 450 //Porcentagem = 51.8%
Total = N°. de versículos = 3769 //N°. de variantes = 2056 //Porcentagem = 54.5%
Esse percentual de 54,5% de variação nos quatro evangelhos corresponde a um pouco mais da metade de seu conteúdo. Isso significa que a metade do texto dos Evangelhos bíblicos é longe de ser puro.
No que se refere ao número total de variantes livres nos escritos paulinos (Romanos à Hebreus), temos os seguintes dados:
Total = N°. de versículos = 2335 N°. de variantes = 1771 Porcentagem = 76.5%
É por esse motivo que as comissões de crítica textual têm procurado indicar o grau relativo de segurança por meio das letras A, B, C, D e, dentro de “chaves” {} no início de cada conjunto de variantes textuais. As suas decisões são hipotéticas, baseadas tanto em considerações internas, como em evidência externa.
“{A}” significa que o texto é praticamente certo, enquanto que “{B}” indica que existe certo grau de dúvida. A letra “{C}” significa que existe um considerável grau de dúvida, enquanto que “{D}” mostra que existe um grau muito elevado de dúvida sobre a leitura.
Ou seja:
“{A}” = texto seguro"{B}” = certo grau de dúvida"{C}” =considerável grau de dúvida"{D”} = grau muito elevado de dúvida
Estas classificações são tabuladas nas notas de rodapé de cada edição crítica do Novo Testamento grego, incluindo a The Greek New Testament Aland.
A seguinte classificação foi realizada pela ALAND, Kurt; ALAND, Barbara. The Text of The New Testamen, 1995. Ela retrata o grau de confiabilidade textual do texto do Novo Testamento de acordo com a classificação “{A}” (= texto seguro), “{B}” (= certo grau de dúvida) “{C}” (=considerável grau de dúvida) e “{D”} (= grau muito elevado de dúvida):
Classificação {A} = 8.7 %
Classificação {B} = 32.9 %
Classificação {C} = 48.4 %
Classificação {D} = 9.9 %
Ou seja:
o texto do Novo Testamento possui somente 8,7% de confiança, enquanto 91,2% do texto oscilam entre pouco duvidoso e muito duvidoso.
Isso significa que só podemos ter confiança absoluta a respeito do texto do Novo Testamento em apenas 8,7% de seu conteúdo.
Diante desses dados alarmantes, precisamos definir se esse alto número de variações é realmente significante para a leitura bíblica. Metzger e Ehrman, ao discutir a história de várias edições do texto do Novo Testamento grego no período crítico moderno, respondem a essa questão:
"Em 1966, após uma década de trabalho por uma comissão internacional, cinco sociedades bíblica publicaram uma edição do Greek New Testament designados para o uso de tradutores da Bíblia e estudantes. O aparato textual, que proporcionou uma citação relativamente completa das evidências manuscrito provas, incluiu cerca de 1.440 conjuntos de leituras variantes, escolhidos especialmente por causa de sua significância exegética [...] m 1981, por ocasião de uma reunião dos cinco membros da comissão editorial [...], as decisões foram feitas no sentido de introduzir no aparato 284 conjuntos adicionais de leituras variantes de passagens de importância exegética" (Cf. B. M. Metzger & B. D. Ehrman. The Text Of The New Testament: Its Transmission, Corruption, And Restoration, 2005, Fourth Edition, op. cit., pp. 192-194).
Desse modo, 1724 conjuntos de leituras variantes foram selecionados, todos eles, ao contrário da proclamação da apologista, de grande importância, dada sua “importância exegética”, para a leitura do Novo Testamento.
D. João Mehlmann O.S.B., doutor em Teologia e em Ciências Bíblicas, durante muito tempo professor da PUC-SP, afirmou que:
“Sendo o Novo Testamento o livro mais copiado na Antiguidade, é lógico que na transmissão manuscrita seja um dos livros que MAIS VARIANTES apresentam. Se todas as palavras do Novo Testamento não chegam a 150.000, as variantes são cerca de 200.000.
As causas dessas variantes, que podem dividir-se em não-intencionais e intencionais [...] Talvez umas 200 variantes influem no sentido do texto [...] e talvez umas 15 se referem a verdades dogmáticas”. (cf. História da Palestina nos Tempos do Novo Testamento, 1961, coleção da Revista de História. Volume I (História Política da Palestina nos Tempos do Novo Testamento).
***
Conclusões
- Só temos um texto legitimamente seguro em relação à tradição manuscrita do século IV d.C. Como os séculos I, II, III foram os séculos em que mais se adulteraram o texto do NT, temos certeza total de que o texto do Novo Testamento não merece confiança.
- Não temos mais que 8% de certeza e segurança a respeito da confiabilidade do texto do Novo Testamento.
- 91,2% do texto do Novo Testamento oscilam entre pouco duvidoso e muito duvidoso.
- Dos 7947 versículos que o Novo Testamento possui, 4999 foram alterados, constituindo variantes. A porcentagem total de alterações e variações do texto do Novo Testamento é de 62.9% (e isso somente de acordo com o texto do NT do século IV d.C.. Na medida em que retrocedemos no tempo até o século I, essa porcentagem aumenta).
- Dos 5745 manuscritos existentes (até o ano de 2005) do Novo Testamento, apenas 2,8% pertencem a Idade Antiga Tárdia. 97,2% são manuscritos medievais, 93,6% foram escritos depois do século 9° d.C.
- Apenas 0,03% de todos os manuscritos existentes do Novo Testamento pertencem ao século II d.C., e se constituem meros 2 papiros fragmentados.
- Não há nenhum texto completo do Novo Testamento anterior ao século III d.C., sendo que a grande maioria são meros fragmentos contendo um ou dois versículos breves.
- Apenas 8% de todos os 5745 manuscritos do Novo Testamento descobertos até o ano de 2005 constituem textos completos do Novo Testamento.
- 92% de todos os 5745 manuscritos do Novo Testamento não passam de fragmentos.
- A Crítica Textual só vai aonde os manuscritos vão. Como só começamos a ter manuscritos completos a partir do século IV d.C., a Crítica Textual só pôde identificar as alterações textuais produzidas dessa época em diante. As mais antigas alterações textuais (as que versam sobre as verdades dogmáticas do cristianismo, histórias de Jesus, etc.) precisam do apoio da Crítica da Tradição, Crítica da Redação e Crítica das Fontes para serem identificadas e elucidadas.
***
Fontes de consulta:
http:// www. islamic-awareness.org/Bible/Text/Bibaccuracy.html;
ALAND, Kurt (ed.) [et al]. The New Testament Greek. Third Edition. Stuttgart-Germany: United Bible Societies, 1988;
EHRMAN, Bart. O que Jesus disse? O que Jesus não disse? Quem mudou a Bíblia e por quê? Rio de Janeiro: Prestígio, 2006.
6 comentários:
pra alguns casos como pra atestar a fidedignidade dos texto os manuscritos mais recentes não valem, mas para alegar as variações textuais valem? Seria interessante ter explicado pro pessoal o que se pode ter como variação textual, como mudanças de letras ou ordem de palavras, que são insignificantes em questão do sentido do texto.. Os escritos patrísticos tem algum valor para ti? Pois eles também podem auxiliar a descobrir o que foi escrito e a tradição a revelar como pensavam os Cristãos primitivos. Um video interessante pra quem quer saber um pouco mais sobre o assunto: https://vimeo.com/9831765
Quando iniciei minha pesquisa diletante acerca da origem do cristianismo eu já tinha uma ideia formada: nada de Bíblia, teologia e história das religiões. Todos os que haviam explorado esse caminho haviam chegado à conclusão alguma. Contidos num cercadinho intelectual, no máximo, sabiam que o que se pensava saber não era verdade. É isso o que a nossa cultura espera de nós, pois não gosta de indiscrições. Como o mundo não havia parado para que o Novo Testamento fosse escrito, o que esse mesmo mundo poderia me contar a respeito dessa curiosidade histórica? Afinal, o que acontecia nos quatro primeiros séculos no mundo greco-romano, entre gregos, romanos e judeus? Ao comentar o livro “Jesus existiu ou não”, de Bart D. Ehrman, respondo a essas perguntas.
http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paguei-pra-ver
Quando iniciei minha pesquisa diletante acerca da origem do cristianismo eu já tinha uma ideia formada: nada de Bíblia, teologia e história das religiões. Todos os que haviam explorado esse caminho haviam chegado à conclusão alguma. Contidos num cercadinho intelectual, no máximo, sabiam que o que se pensava saber não era verdade. É isso o que a nossa cultura espera de nós, pois não gosta de indiscrições. Como o mundo não havia parado para que o Novo Testamento fosse escrito, o que esse mesmo mundo poderia me contar a respeito dessa curiosidade histórica? Afinal, o que acontecia nos quatro primeiros séculos no mundo greco-romano, entre gregos, romanos e judeus? Ao comentar o livro “Jesus existiu ou não”, de Bart D. Ehrman, respondo a essas perguntas.
http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/paguei-pra-ver
Cães blasfemadores, Deus se lembrará de vocês quando seus espíritos maus deixarem esse mundo. Os ensinamentos constantes nos Evangelhos deveriam ser suficientes para fazer suas línguas pérfidas se calarem e seus joelhos se dobrarem diante de Nosso Senhor. Não estou defendendo a Torah, o Antigo Testamento, só estou reafirmando a veracidade e a grandeza dos Evangelhos. Jesus Cristo não precisa ser defendido, pelo contrário, nós é que precisamos ser agraciados com Sua misericórdia, certamente alguns bem mais do que outros.
Se sabemos que o texto foi corrompido é óbvio que é porque conseguimos refazer o “texto original”, se um perito diz que uma obra de arte é falsa é porque ele conhece a original. Bruce Metzger e Ehrman no livro transmissão, corrupção e restauração do texto do NT provam que o NT é o texto mais confiável existente. Os “erros” contidos no NT são falta ou inserção de artigos, inversão na ordem das palavras, ordem diferente dos livros, coisas irrelevantes e comuns que ocorriam nas cópias, os enxertos são irrelevantes para a doutrina cristã e concordam com os ensinos, tinham a intenção de clarear o entendimento do texto. O NT é tão confiável que é possível reconstruir todo o NT apenas com citações extra bíblicas dos pais da igreja dos primeiros séculos. É um milagre termos os textos que possuímos, pois até o ano 313 o cristianismo foi perseguido e seus livros eram queimados. Esse texto é uma piada para nós estudantes da crítica textual.
Meu livro QUIMERA:
Uma síntese crítica das religiões mais proeminentes, com maior enfoque no cristianismo.
Quimera é um compêndio que aborda as origens e discrepâncias das religiões mais proeminentes, principalmente o cristianismo, a mais destacada de todas, com intensa análise e questionamento dos aspectos mais polêmicos e das sérias consequências na História e no caráter do homem. Quimera dá ao leitor uma visão geral das religiões, suas origens, influências, aspectos negativos e positivos, procurando manter o máximo de imparcialidade, dentro do mais estrito senso lógico possível. Esta obra literária também enfatiza e analisa muitos pontos inconsistentes e contraditórios na Bíblia.
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